terça-feira, 10 de maio de 2011

Sem mundo


Nós dois estamos no sofá neste momento nos amando mais a cada golada que dou no meu chá de hortelã. Você me beija, abraça, me faz feliz. Eu dou risadas da sua barba suja de farelos de biscoito, você me pega pelos braços com força, como se fosse me matar, mas na verdade não passa de um abraço de amor. Amor é essa a palavra que descreve cada momento nosso.

Até mesmo aquele dia em que nós fomos ao super mercado, aquele em que você ao contrario de mim se lembrou de comprar os ovos, eu estava muito distraída naquele dia, parecia até que previa o que ia acontecer, é como se algo em mim ou no meu sistema nervoso , digestivo ou qualquer outro sistema que tenha em mim estivesse falhando, doendo, machucando por alguma coisa que eu não sabia o que era. Parecia mais uma daquelas previsões de mãe ou até mesmo a previsão do tempo que passa na TV pela manhã e nessa avisava que iria cair uma chuva forte capaz de dilacerar por inteiro um coração.

Perco-te em meio a uma madrugada em que eu não consegui dormir direito, mais um dos avisos de que alguma catástrofe natural estava a caminho. Uma ligação naquelas quatro da manhã me fez perder o chão, o rumo, o coração, a mente, a previsão de tempo, os farelos e o resto todo. Perdi também o meu mundo, você.

E então ás sete da noite eu corria para ir arrumar e te ver, passava aquele perfume na esperança de que iria passar todo aroma dele para o seu corpo, ia para o sofá ficar te esperando com nosso chá de hortelã e os biscoitos farelentos, esperando os seus braços fortes virem me apertar, esperando você me fazer rir das suas palhaças. Eu tentava com tudo isso relembrar os nossos momentos juntos, mas isso fazia dor no coração e ao mesmo tempo me dava certo aconchego de colo materno, ou melhor, aconchego do seu colo. Mas no meio disto tudo eu sabia que havia te perdido para sempre, que não iria mais sentir seu calor, não iria respirar o seu ar, não iria te amar no nosso sofá, não ia ver seu sorriso e muito menos sua cara de bravo e também sabia que não iria ter mais ninguém para me lembrar de comprar os ovos, para falar a verdade eu sabia que tinha perdido a minha vida, o meu amor.

As pessoas tentavam me confortar falando que você agora andava pelos céus, e confesso que fico feliz quando dizem isso, só não sei se você fica feliz me vendo daí de cima sem o meu chão para poder caminhar. Saudades de você, saudades de amar.


(AL. Gonçalves)

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