terça-feira, 5 de abril de 2011

Anjo na neve

Obrigada querido por quando pedi para entrarmos lá naquela cafeteria no meio da estrada de nossas vidas, nós dois sentados em uma daquelas mesas a beira da janela, você limpando o sujo de leite na beira da minha boca, você foi impecável naquele inverno querido, foi à parte quente da minha vida naquele tremendo frio.

Mas ai quando estávamos fazendo anjos na neve você me falou para fechar os olhos e quando os abri não o vi mais. Sumiu. Evaporou naquele frio, o que fisicamente é muito difícil de acontecer. Você que me fazia quente, apago minha chama, me deixou na lama, ou melhor, no gelo a menos oito graus Celsius. E toda aquela sua pose de cara certo e correto, de boa índole e bom caráter sumiram, foram embora junto com o vento que apagou do chão branco o meu anjo na neve. Eu e meu castelo de neve desmoronamos naquele inverno.  

Primavera. Flores. Amores. Ou para mim apenas mais uma estação qualquer. Caída na cama olhando para o teto recebo uma ligação sua. Desesperada andando pela casa como se tivesse perdido minhas chaves e quando isso me acontecia, eu sempre apelava para o São longuinho. Então olho porta a fora e lá está você como de costume fazia no inverno quando vinha me buscar, me ligava para que eu destrancasse a porta para permitir a sua entrada. Abro. Vejo seu olhar irônico e ao mesmo tempo decepcionado, já o meu surpreso e esbugalhado. Vem para me abraçar como se nunca me tivesse largado na neve, eu me esquivo dos seus braços estendidos e me viro em direção a sala, você me puxa e olha nos meus olhos tentando manter um contato visual com meus olhos arregalados e tristes, abaixo minha cabeça em direção sul, ele vem e levanta meu queixo em direção norte, me pedi desculpas com sua voz baixa e roca, fala que não sabe o porquê de ter feito aquilo, ou melhor, fala que sim, sabe o porquê de ter feito aquilo, porque me ama de mais para ser verdade e aquilo o assustava muito, era diferente de tudo para ele, pois quando estava comigo o seu inverno foi muito mais quente. Finjo acreditar nas suas palavras, depois falo logo a verdade, solto minhas silabas soltas para seu ouvido pega-las e escutá-las e para que sua mente grave como uma fita cassete aquela cena e as palavras ditas. Entreguei-lhe uma flor de primavera, peço a ele que feche os olhos e então eu disse em tom de tranquilidade com toque de vingança: " -Quero que você vá embora, quero que você ache meu anjo de neve que foi embora com o vento, entregue a ele essa flor e que você não volte, vá e siga a sua estrada, que eu estou seguindo a minha e quanto ao inverno, obrigada, mas prefiro não rotular meus momentos por estação, nem por amores, pois amores podem ir a um piscar de olhos, podem ir embora com um sopro forte do vento, amores vão e voltam como brisas, mas o que acontece é que as brisas que voltam nunca são as mesmas, sempre irão mudar e nunca se repetiram. Então vá sussurrar e limpar os lábios sujos de leite de outra pessoa. Vá e peça a outra pessoa para que faça um anjo na neve. "


                                                           (AL. Gonçalves)

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